Defensor da amamentação, o Unicef, Fundo das Nações Unidas
para a Infância, é o responsável pelo Manual do Aleitamento Materno, com
recomendações sobre a prática. Segundo o organismo internacional, bebês
amamentados imediatamente após o nascimento têm índice de morte neonatal até
22% menor do que os demais. Isso se deve ao contato com a mãe e à transmissão
de anticorpos pelo leite, sempre benéfico à criança. “Não se usa o termo bom
leite materno porque todo leite materno é bom”, explica Fábia Queiroga,
pediatra e supervisora do Banco de Leite do Hospital Santa Lúcia. “O que a
gente sempre gosta de falar para as mães é que, se ela quer amamentar e está com
dificuldade, procure ajuda pra conseguir”, recomenda Miriam Santos,
coordenadora do Banco de Leite da Secretaria de Saúde do Distrito Federal.
A professora Renata Rodrigues, 35 anos, cresceu ouvindo que
leite e derivados, como queijo, ajudavam na produção do leite materno. Durante
palestras nutricionais do pré-natal, porém, ela descobriu que não existe essa
relação. Os dois partos dela foram em hospitais particulares, mas as melhores
orientações sobre a amamentação foram encontradas em um banco de leite da rede
pública de saúde. “As meninas (do Banco de Leite) são maravilhosas, dão apoio
para a mãe. Você só sai de lá quando está craque. É um trabalho muito bonito”,
elogia.
De fato, não existem evidências científicas de alimentos que
incentivem o organismo a produzir mais leite. Segundo a pediatra Fábia
Queiroga, o que algumas das comidas mais recomendadas (como a rapadura)
proporcionam é um ânimo extra para a mulher, pois têm alto potencial
energético. Para Miriam Santos, os “desejos” de grávidas são uma forma de
manifestação do valor afetivo da comida. “Por trás de uma canjica, teve alguém
que se preocupou comigo: teve alguém que fez, que levou pra mim. Isso se chama
apoio, isso é o que uma mulher que amamenta necessita. O apoio pode vir de
várias formas”, exemplifica.
A coordenadora conta que muitas mães chegam à equipe médica
comunicando que vão interromper a amamentação porque é estressante, quando, na
verdade, estão sobrecarregadas por terem que cuidar do novo bebê, da casa e de
outros filhos. Isso explicaria o mito da cerveja preta como estímulo para a
produção de leite. A bebida produz relaxamento e só — durante a gravidez,
álcool é terminantemente proibido. Durante a amamentação, é fortemente
contraindicado. Mas, se por acaso ocorrer a ingestão, que seja observado o
período entre as mamadas, para que a substância seja degradada pelo organismo
da mãe antes de chegar ao bebê.
É verdade que, em momentos de estresse, a produção de leite
pode cair. Segundo Andreia Duarte, pediatra e coordenadora da UTI Neonatal do
Hospital Pronto Norte, “quanto mais tranquila estiver a mulher, mais sucesso na
amamentação”. Em tese, o próprio contato com o bebê seria reconfortante, já que
há liberação de ocitocina, o hormônio do bem-estar. Mas o estresse pode
atrapalhar tudo: sabe-se que ele inibe a ação da ocitocina e também a da
prolactina, hormônio que estimula a liberação do leite.
A crença popular de que quanto mais o bebê suga, mais leite
fica disponível é correta. Segundo Miriam Santos, do Banco de Leite da
Secretaria de Saúde, o movimento de sucção feito pelo bebê na região da aréola
envia para o organismo da mãe estímulos, embora a ordenha para doação também
seja efetiva. Fábia Queiroga ressalta ainda a importância da hidratação durante
o processo. “O que interfere diretamente na produção é ter alimentação adequada
e tomar muito líquido — diuréticos, pelo contrário, acarretam queda no volume
do leite”, explica. Não existe evidência de que mulheres que tenham sido bem
amamentadas quando bebês produzam mais leite quando se tornam mães. Para
Queiroga, o que pode acontecer é uma predisposição genética à maior produção, o
que justificaria esse padrão familiar. Além disso, uma alimentação saudável
convencional, com amplo leque de nutrientes, incluindo frutas e verduras, é
suficiente para garantir saúde para mãe e bebê.
Normalmente, crianças saudáveis não precisam de
complementação e as mães não têm baixa produção, mas dificuldade na técnica de
amamentar. Durante a transição dos seis meses, em que o bebê passa a comer
outros alimentos, pode ser necessário algum complemento. Para Fábia Queiroga,
existem outras possibilidades, como aleitamento de irmãos gêmeos ou trigêmeos.
“O principal parâmetro é o peso dos bebês, que pode estar baixo”, finaliza. O
que pode desencadear cólica no bebê? Em princípio, não existem restrições
alimentares fixas. “Na prática, tem algumas coisas que vemos que podem fazer
mal, como comidas muito ácidas ou condimentadas”, diz. As xantinas,
classificação à qual pertence a cafeína, são alguns dos compostos de alerta, já
que são conhecidos por aumentar a atividade intestinal. Por isso, recomenda-se
atenção com chocolate, chá preto e café.
Outra possibilidade são as
intolerâncias ou alergias alimentares, como a intolerância à lactose.
A professora Renata Rodrigues acredita que o fato de ter
leve intolerância a lactose contribui para que o açúcar do leite ingerido vire
uma toxina para as filhas, já que não é totalmente digerido pelo organismo.
Segundo a professora, a primogênita Letícia, 5 anos, teve cólicas por causa da lactose
e também pelo refrigerante, já que a alimentação durante a gravidez de Letícia
não foi tão regrada quanto na gravidez de Luísa, de 2 meses. Miriam Santos
explica que, salvo condições genéticas raras, a intolerância à lactose não é
frequente em bebês. Como a lactase, enzima que digere esse açúcar, é mais
abundante nos primeiros meses de vida, a intolerância costuma aparecer com a
aproximação da vida adulta. O que pode ocorrer é a alergia à proteína do leite
de vaca, a caseína. Cada bebê deve ser analisado individualmente e as dietas
restritivas de leite só devem ser adotadas pelo profissional após indícios
claros de cólica.
Reprodução: Correio
Braziliense