A biópsia é o recurso mais utilizado na medicina para
detectar se um paciente está com câncer. Devido à necessidade de retirada do
tecido que precisa ser analisado, porém, incomoda o paciente e exige presteza
de quem realiza o procedimento. Na busca por facilitar essa etapa importante do
enfrentamento à doença, cientistas da Alemanha desenvolveram uma técnica menos
invasiva e mais eficiente de diagnóstico. Com o auxílio de uma tomografia
avançada e que dispensa o uso de radioatividade, eles conseguiram resultados
melhores de descoberta do melanoma, o tipo mais agressivo de câncer de pele, do
que pelo método tradicional. Os autores do trabalho, publicado na revista
Science Translational Medicine desta semana, acreditam que a opção se torne uma
alternativa mais segura e possa ser usada em outras versões da doença.
A ideia de buscar uma técnica mais avançada surgiu com base
em estudos anteriores que utilizaram tomografias computadorizadas com
visualização em 3D para identificar tumores. “Em 2014, um trabalho de colegas
nossos mostrou que 79,2% dos pacientes com melanoma submetidos a essa análise
obtiveram resultados negativos; ou seja, quase 80% deles poderiam ser poupados
de cirurgias de biópsia”, destacou ao Correio Joachim Klode, pesquisador da
Universidade de Duisburg-Essen (Alemanha).
A técnica usada por Klode e equipe chama-se tomografia
optoacoustic multiespectral (MSOT, pela sigla em inglês). Primeiro, o paciente
recebe a injeção de um corante fluorescente na região que existe a suspeita de
tumor. Logo em seguida, entra no MSOT para a realização do exame. Depois, um
detector de MSOT de mão é usado para deixar a análise mais localizada. Ambos os
exames são baseados em uma resposta de luz criada pelo corante, que reage ao ser
exposto à tomografia.
A tecnologia foi testada em 20 pacientes e nenhum deles
apresentou falsos negativos — quando o paciente tem a doença, mas o exame não a
acusa. “O corante e o MSOT provaram ser uma excelente abordagem de detecção,
eliminando a necessidade de uso de radioatividade. Ainda foram capazes de
melhorar a análise patológica, aumentando as taxas de detecção de metástases.
Se validada em estudos maiores, essa abordagem poderia aliviar a necessidade de
cirurgia invasiva em um número significativo de pacientes”, destacou Klode.
Radioatividade
Eduardo Vissotto, oncologista do Hospital Santa Lúcia, em
Brasília, e membro da Associação Brasileira de Oncologia, explica que já são
usadas atualmente técnicas semelhantes de diagnóstico, como a linfocintilografia.
Segundo o médico, o procedimento também é menos invasivo e funciona de forma
parecida, com uma substância injetada na região de suspeita do tumor para que
ele possa ser localizado mais facilmente.
“Mas ela utiliza material radioativo, diferentemente dessa
técnica nova da Alemanha, o que é uma vantagem, já que esse é um material que
pode trazer perigo ao paciente e ao profissional de saúde”, compara. “(O MSOT)
é um exame de alta sensibilidade e que não mostrou falsos negativos. Isso
auxilia a evitar as cirurgias, um procedimento muito invasivo, mas é claro que
precisa ser confirmado em trabalhos maiores”, pondera.
Com os resultados positivos obtidos no primeiro experimento
em humanos, os autores da pesquisa adiantam que mais análises são necessárias.
“Nossos resultados precisam ser validados em um estudo com pacientes de perfis
diferentes e acreditamos que eles também possam ajudar na detecção do carcinoma
de células escamosas”, adiantou Klode. Vissoto também acredita que a tecnologia
tem chances de aplicação ampliada. “Caso a eficácia seja comprovada em outros
experimentos, ajudaria na busca de outros tumores, como o câncer de mama”,
opina.
Na terceira idade
É um tumor maligno com origem nas células escamosas, que
constituem a maior parte das camadas superiores da pele. Os carcinomas podem
ocorrer em todas as partes do corpo, mas costumam se desenvolver em regiões que
são expostas ao sol, como braços, pernas, rosto, pescoço e couro cabeludo. É
uma enfermidade mais frequente em homens e raras vezes se manifesta antes dos
50 anos. Os diagnósticos começam a surgir após os 70 anos.
Informações Correio
Braziliense