Apenas uma em cada seis crianças com menos de 2 anos recebe
alimentos em quantidade e diversidade suficientes para a idade, o que deixa as
restantes em risco de danos físicos e mentais irreversíveis. A conclusão é de
um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado na
sexta-feira (14/10).
"Os bebês e as crianças pequenas têm maior necessidade
de nutrientes do que em qualquer outra fase da vida. Mas milhões de crianças
pequenas não desenvolvem todo o seu potencial físico e intelectual porque
recebem pouca comida e demasiado tarde", disse France Begin, conselheira
sênior para os assuntos de Nutrição da Unicef, citada em nota da organização.
Ela alerta que "uma nutrição deficiente em uma idade tão tenra causa danos
mentais e físicos irreversíveis".
Chamado Desde a primeira hora de vida, o relatório mostra um
mundo em que uma dieta saudável está fora do alcance da maioria. Os dados
revelam que a introdução tardia de alimentos sólidos, o número reduzido de
refeições e a falta de variedade de alimentos são práticas generalizadas no
mundo, privando as crianças de nutrientes essenciais quando o cérebro, os ossos
e o físico deles mais precisam.
Com efeito, embora os alimentos sólidos devam ser
introduzidos a partir dos 6 meses de idade, um terço de todas as crianças no
mundo só começa a comê-los demasiado tarde e um em cada cinco bebês só começa a
receber alimentos sólidos após os 11 meses.
Apenas 52% das crianças entre 6 e 23 meses recebem o número
mínimo de refeições diárias para a sua idade e a diversidade alimentar é outro
problema: menos de metade das crianças recebe diariamente alimentos de pelo
menos quatro grupos diferentes.
Entre os 6 e os 11 meses, faixa etária em que a nutrição é
mais importante, a situação é ainda mais preocupante: apenas 20% recebem
alimentos de quatro grupos diferentes por dia, o que provoca carências de vitaminas
e minerais.
O relatório do Unicef refere-se também à amamentação, que
segundo as recomendações da Organização Mundial da Saúde deveria ser a forma
exclusiva de alimentação dos bebês até os 6 meses.
Segundo os dados, apenas 45% dos 140 milhões de bebês que
nasceram em 2015 foram amamentados na primeira hora de vida, como é
recomendado, e três em cada cinco bebês com menos de 6 meses não recebem os
benefícios da amamentação exclusiva.
De acordo com o relatório, quase metade das crianças em
idade pré-escolar sofre de anemia e metade das crianças entre os 6 e os 11
meses não recebe qualquer tipo de alimento de origem animal.
O Unicef alerta ainda para as desigualdades: na África
Subsaariana e no Sul da Ásia, apenas uma em cada seis crianças dos agregados
familiares mais pobres com idade entre os 6 e os 11 meses têm uma dieta
minimamente diversificada, comparando com uma em cada três dos agregados mais
ricos.
A organização destaca que a melhoria da nutrição das
crianças menores poderia salvar 100 mil vidas por ano, mas lembra que as
famílias, embora façam o melhor com os recursos a que têm acesso, não podem
fazer tudo sozinhas. É preciso a liderança dos governos e as contribuições de
setores-chave da sociedade para fornecer uma dieta saudável às crianças, diz o
relatório.
Tornar os alimentos nutritivos mais baratos e acessíveis
para as crianças mais pobres exige investimentos consistentes e direcionados
por parte dos governos e do setor privado. Transferências em dinheiro ou em
gêneros para as famílias vulneráveis, programas de diversificação de colheitas
e o enriquecimento de alimentos básicos são essenciais para a melhorar a
nutrição das crianças menores.
Serviços de saúde comunitários, com capacidade para ajudar a
ensinar aos cuidadores melhores práticas alimentares, bem como a água e o
saneamento adequados – essenciais para a prevenção de doenças como a diarreia –
são igualmente fundamentais.
"Não podemos permitir falhas nesta luta para melhorar a
nutrição das crianças. A sua capacidade de crescer, aprender e contribuir para
o futuro dos seus países depende disso", concluiu France Begin.
Informações Agência
Brasil