Com o objetivo de conscientizar a sociedade para a
importância da doação de leite humano e incentivar a prática entre mães que
amamentam, o Ministério da Saúde, em parceria com a Rede Global de Bancos de
Leite Humano, lançou, na terça-feira (16), a Campanha Doe Leite Materno. A
amamentação é o principal fator de redução da mortalidade na infância e, por
isso, a campanha prevê o aumento do número de novas doadoras voluntárias, bem
como do volume de leite humano coletado e distribuído aos recém-nascidos
prematuros e de baixo peso, internados no Brasil.
Durante o lançamento, o ministro da Saúde, Ricardo Barros,
destacou que o Brasil é referência mundial em doação de leite. “Este
reconhecimento é mais uma conquista do SUS. O Ministério da Saúde continuará
dando todo o apoio necessário para estimular cada vez mais a amamentação e a
doação de leite entre as mães brasileiras, práticas que contribuíram para a
redução da mortalidade infantil em todo o mundo. Espero que no próximo ano
possamos comemorar um avanço no número de doações e bebês beneficiados. Doar leite
humano é salvar vidas”, afirmou o ministro.
No evento, estiveram presentes, além do ministro da Saúde,
Ricardo Barros, a atriz e embaixadora da Rede Brasileira de Bancos de Leite
Humano, Maria Paula, o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg,
entre outras autoridades. Os ministros de Cabo Verde e Equador, países para
quem o Brasil exporta técnicas de baixo custo para implantar bancos de leite,
participaram dos seus países, por meio de conferência.
O governador Rodrigo Rollemberg destacou os resultados já
alcançados no DF. “Tenho orgulho em dizer que o Distrito Federal é referência
nacional em doações de leite materno. Conseguimos este resultado com o esforço
de todos os profissionais, principalmente do Corpo de Bombeiros, que participa
inteiramente do processo de coleta. Hoje, o DF possui 13 bancos de leite com o
padrão ouro. Continuaremos com todo o empenho necessário para manter e ampliar
este resultado”, destacou o governador.
A embaixadora Maria Paula reforçou a importância das mães
doarem o leite materno. “A maternidade foi um divisor na minha vida. De
artista, me transformei em ativista deste projeto tão maravilhoso que salva
vidas. Doar leite materno possibilita que os bebês prematuros tenham sua vida
preservada. Se todas as mães doarem um pouquinho do seu leite, a gente consegue
mudar o mundo em apenas uma geração”, ressaltou Maria Paula.
Os Bancos de Leite Humano (BLH) são casas de apoio à
amamentação que surgiram como uma estratégia de qualificação da assistência
neonatal em termos de segurança alimentar e nutricional, com foco em ações que
ajudam a reduzir a mortalidade infantil em instituições hospitalares. O
trabalho é voltado a crianças que demandam cuidados especiais em unidades de
terapia semi-intensiva e intensiva, ou seja, bebês que nasceram prematuros, com
baixo peso. São crianças que, pelas mais variadas razões, precisam de uma
atenção especializada.
A estratégia de Bancos de Leites Humano (BLHs) do Brasil,
desenvolvida há 32 anos pelo Ministério da Saúde, já beneficiou, entre os anos
de 2009 e 2016, mais de 1,8 milhão de recém-nascidos. Contou com o apoio de
mais de 1,3 milhão de mulheres doadoras, com aproximadamente, 1,4 milhão de
litros de leite coletados. Em 2016, os BLHs do país, registraram mais de 300
atendimentos em grupos, 1,7 milhão de atendimentos individuais e
aproximadamente, mais de 270 mil atendimentos domiciliares.
Neste mesmo período, em todo o mundo, mais de17,8 milhões de
mulheres foram assistidas por BLH. Foram mais de 1,5 milhão de litros de leite
doados por 1,8 milhão de mulheres doadoras e mais de 1,5 recém-nascidos
beneficiados.
Para Gisele Bortolini, mãe da pequena Helena, o trabalho do
Banco de Leite foi fundamental para o desenvolvimento da sua filha, que nasceu
prematura, com 30 semanas. “A doação de leite humano realmente salva vidas.
Tive uma gravidez complicada com diagnóstico de pré-eclampsia. Minha filha
passou quatro meses no hospital e o banco de leite foi fundamental para o
desenvolvimento dela. A amamentação é um momento muito importante para o bebê e
um período de solidariedade entre as mães”, reforçou Gisele.
MAIOR REDE
O Brasil possui a maior e mais complexa rede de banco de
leite do mundo. Hoje, existem no país 221 BLH, em todos os estados e Distrito
Federal, e 186 Postos de Coleta, além da coleta domiciliar. O modelo brasileiro
de bancos de leite humano é focado na promoção, proteção e apoio ao aleitamento
materno, exclusivo, até os seis meses e continuidade da amamentação por dois
anos ou mais. Além de coletar e distribuir leite humano de qualidade a bebês
prematuros e de baixo peso, contribuindo para a diminuição da mortalidade
infantil.
Todo leite coletado nos bancos passa por um rigoroso
controle de qualidade, antes de ser distribuído, e é fornecido de acordo com as
necessidades de cada criança. No Brasil, nascem aproximadamente 3 milhões de
bebês por ano, sendo que 332 mil são prematuros ou vêm ao mundo com baixo peso
(menor de 2,5kg). Muitas dessas crianças precisam permanecer internadas assim
que nascem até terem condições de ir para a casa. Esses bebês têm melhores
chances de sobrevivência e recuperação, se a alimentação com leite humano for
ofertada.
Apesar das mobilizações já realizadas, o número de doações
de leite humano ainda é baixo em relação à demanda. Hoje, a Rede Brasileira de
Bancos de Leite Humano consegue suprir aproximadamente 60% da demanda para os
recém-nascidos prematuros e de baixo peso internados nas UTI Neonatais do
Brasil. Isso significa que cerca de 40% dos bebês internados que precisam não
podem contar com o leite humano na sua alimentação. Por isso o Ministério da
Saúde, em parceria com a rBLH, realiza todos os anos uma campanha, para
estimular que amamentam a adotar a prática.
A doação de leite humano, além proporcionar o alimento mais
completo que existe para bebês internados, também representa uma economia de R$
180 milhões para o país com a diminuição da necessidade de compra de fórmulas
artificiais para recém-nascidos prematuros nas maternidades do SUS.
A amamentação é a forma de proteção mais econômica e eficaz
para redução da mortalidade infantil, pois permite grande impacto na saúde da
criança, diminuindo a ocorrência de diarreias e infecções, principais causas de
morte de recém-nascidos, ao mesmo tempo em que traz inúmeros benefícios à saúde
da mulher, como a redução das chances de desenvolver câncer de mama e de útero.
Estima-se que o aleitamento materno seja capaz de diminuir em até 13% a morte
de crianças menores de 5 anos em todo o mundo por causas preveníveis. Nenhuma
outra estratégia isolada alcança o impacto que a amamentação tem na redução das
mortes de crianças nessa faixa etária.
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
O Brasil transfere os princípios utilizados na implantação
do BLH, capaz de alinhar baixo custo com alta tecnologia, a 24 países ao redor
do mundo: Angola, Argentina, Bolívia, Belize, Cabo Verde, Colômbia, Costa Rica,
Cuba, Equador, El Salvador, Espanha, Guatemala, Haiti, Honduras, México,
Moçambique, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal, República Dominicana,
Uruguai e Venezuela.
São acordos firmados de cooperação técnica para a
implantação do banco de leite humano no país. Em todos os casos, são realizadas
visitas exploratórias de técnicos de ambos os países para receber orientação e
capacitação em banco de leite humano.
A cooperação internacional começou nos anos 80, quando os
bancos de leite humano passaram a constituir uma Política de Saúde Pública no
Brasil – país que lidera o movimento internacional em prol da amamentação e da
doação de leite humano, por meio da Agência de Brasileira de Cooperação (ABC) e
da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Desde então, os resultados positivos para o
aprimoramento da atenção à gestante e a recém-nascidos internados em unidades
neonatais – e a redução da mortalidade infantil no país – chamaram atenção da
comunidade internacional para a estratégia nutricional praticada pelo Brasil.
Em 2001, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a
rBLH-BR como uma das ações que mais contribuíram para redução da mortalidade
infantil no mundo, na década de 1990. De 1990 a 2012, a taxa de mortalidade
infantil no Brasil reduziu 70,5%.
SERVIÇO
Toda mulher que amamenta é uma possível doadora de leite
humano, basta estar saudável e não tomar nenhum medicamento que interfira na
amamentação. Por isso, quem estiver amamentado e quiser doar, basta procurar o
banco de leite humano mais próximo ou ligar para o Disque Saúde, no número 136.
Não existe quantidade mínima para fazer a doação. Qualquer
quantidade é importante. Um pote de 300 ml de leite humano, por exemplo, pode
alimentar até 10 recém-nascidos internados. Por isso, a mulher não precisa se
preocupar em encher o pote para fazer a doação. Todo leite doado é analisado,
pasteurizado e submetido a rigoroso controle de qualidade pelos Bancos de Leite
Humano antes de ser ofertado a uma criança.
Antes da coleta, é aconselhável que a doadora faça uma
higiene pessoal, cobrindo os cabelos com lenço ou touca, usando pano ou máscara
sobre o nariz e a boca, lavando bem as mãos e os braços, até o cotovelo, com bastante
água e sabão. As mamas devem ser lavadas apenas com água e, em seguida, secadas
com toalha limpa. O leite deve ser coletado em local limpo e tranquilo. O leite
humano extraído para doação pode ficar no freezer ou no congelador da geladeira
por até 10 dias. Nesse período, deverá ser transportado ao banco de leite
humano mais próximo da sua casa.
Nicole Beraldo, da
Agência Saúde